quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Berbigão ou Vôngole??

Estive este ano em Florianópolis e em visita ao mercado central, além das inúmeras ostras a R$ 5,00 reais encontrei um tal de berbigão. Fiquei muito curiosa e acabei descobrindo que em Florianópolis vôngole não é vôngole. É berbigão (ao lado). 
E tem sido chamado assim há pelo menos 250 anos, desde que os primeiros açorianos aportaram ali e botaram-lhe nome lusitano. Mas, como berbigão é bicho que dá aos montes nos arredores da capital catarinense, e bem perto da praia, fácil de pegar, acabou virando comida à toa, para matar a fome em tempos de míngua. Que máximo, não é?
Riquíssimo em zinco e outros nutrientes, matar a fome com este tipo de ingrediente é muito chique! Só era refeição entre os ilhéus quando os ventos do leste impediam que os barcos saíssem para pescar. Em Floripa, ficou sendo comida de pobre. Enquanto isso, em São Paulo, chegavam também os napolitanos, famintos e saudosos de seus mariscos. Não encontraram a amada vongola, mas descobriram o berbigão. Moluscos diferentes, sabor quase idêntico. Bastou que se mantivesse a concha e se esparramasse o bicho sobre o spaghetti para que o berbigão ganhasse nome estrangeiro. Nas cantinas e trattorias paulistanas, virou vôngole. E ficou chique.
Espécies de vôngole existem no mundo inteiro (vide foto à direita). Há, de fato, uma vongola que chamam de verace no Mediterrâneo (Venerupis decussata) e há o nosso berbigão (Anomalocardia brasiliana), que povoa toda a costa brasileira. Quem conhece os dois garante que vê pouquíssima diferença. O daqui é particularmente copioso na baía que separa a Ilha de Santa Catarina, onde fica a capital, do continente. É de lá que vem quase todo o vôngole que se come em São Paulo, colhido à mão por dezenas de famílias que fazem do molusco seu único sustento.


Daniela Meira – produtora de culinária Mais Você

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