Daniela Meira |
Apenas
a regulação pública seria eficaz para prevenir os efeitos danosos que os
‘produtos não-saudáveis’ (cigarros, bebidas alcoólicas e alimentos
ultra-processados) exercem sobre as doenças crônicas, como obesidade, diabetes,
doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer.
“Há
várias alternativas para lidarmos com o problema, mas a principal está em
conseguir colocar a questão na agenda política da sociedade civil e dos
partidos políticos”, aponta o professor Carlos Augusto Monteiro, da USP, um dos
autores de um artigo sobre o assunto publicado na renomada revista médica
Lancet.
De
acordo com o artigo, as indústrias que vendem “mercadorias que produzem
doenças” não poderiam ter nenhum papel na formação nacional ou
internacional de políticas de combate a essas doenças.
O
texto descreve a evolução mundial das vendas dos ‘produtos não-saudáveis’,
mostrando um enorme crescimento nos países de baixa e média rendas e examina as
estratégias utilizadas pelas indústrias transnacionais para minar políticas
públicas que poderiam inibir o crescimento do consumo pela população.
As
barreiras já foram vencidas no caso do tabaco, estão sendo enfrentadas no caso
do álcool, mas ainda são praticamente inexistentes no caso dos alimentos
danosos à saúde.
Os
pesquisadores brasileiros criaram o conceito de ultra-processamento dos
alimentos.
“São
mesclas de substâncias extraídas de alimentos, como óleos, gorduras, açúcares,
amidos, ou de outros componentes processados a partir dessas substâncias, como
gorduras hidrogenadas, proteínas hidrolizadas, amidos modificados, adicionadas
de conservantes e de aditivos cosméticos e que contêm pouco ou nenhum alimento
integral na sua formulação”, define o pesquisador.
Se
consumidos ocasionalmente, eles não prejudicam a saúde. “Mas o que se vê em
todo o mundo é a rápida substituição das dietas baseadas em alimentos por
produtos prontos para consumo e os ultra-processados,” complementa.
São
exemplos de alimentos ultra-processados pães industrializados, produtos
panificados, biscoitos, salgadinhos, barras de “cereal”, “cereais matinais”,
guloseimas em geral, embutidos, “nuggets”, sopa instantânea, macarrão
instantâneo, refrigerantes, “bebidas esportivas” e outras bebidas açucaradas.
Segundo
o professor, a legislação no Brasil praticamente ignora os alimentos
ultra-processados graças ao eficiente lobby exercido pelas grandes e poderosas
indústrias de alimentos que controlam o setor. “Já houve várias tentativas
ensaiadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa] mas nenhuma
chegou a ser implementada. Mas o setor vem sendo regulado de forma crescente em
outros países do mundo.”
“O
lucro auferido com a comercialização desses produtos é investido pesadamente em
campanhas publicitárias. A conveniência, acessibilidade e hiper sabor desses
produtos, somados às campanhas publicitárias, explicam o seu crescimento em
todo o mundo”, completa, lembrando que um grupo de pouco mais de uma dezena de
transnacionais domina esse mercado.
“Essas
estratégias incluem ainda um sistemático trabalho visando sabotar qualquer
tentativa de regulação do setor”, alerta o pesquisador, a exemplo do que fez a
indústria do tabaco no século passado.
Fonte: Diário da Saúde
Um comentário:
Oi Daniela conheci seu blog hoje e já estou amando gosto de tudo que fala sobre alimentação, adoreiii.
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